Fandango de Paranaguá torna-se Patrimônio Imaterial Cultural do BrasilAs batidas dos tamancos sobre o tablado de madeira, o som da rabeca do mestre e do adufo nas mãos do fandangueiro. Todas estas – e muitas outras – características que definem o Fandango de Paranaguá agora são Patrimônio Imaterial Cultural do Brasil. O título foi concedido pelo Ministério da Cultura (Minc) em cerimônia na noite de sexta-feira (15/08/2014) no plenário da Câmara Municipal de Paranaguá.

O evento contou com a presença do prefeito Edison Kersten, de representantes do Ministério da Cultura, da regional Paraná do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), dos presidentes das fundações municipais de Turismo e de Cultura, vereadores e, sobretudo, de mestres fandangueiros de quatro grupos da cidade, além de membros dos grupos, incluindo os mais jovens.

O Fandango é uma dança típica da cultura caiçara cuja manifestação se dá no litoral sul de São Paulo e no litoral do Paraná. O prefeito Edison Kersten parabenizou a todos que lutam para manter viva a tradição do Fandango e salientou as ações do poder público municipal para apoiar a manifestação cultural. “É um título importante que muito orgulha a todos os que vivenciam e experimentam o Fandango, que sabem que isto faz parte de nossas raízes. Falando em termos práticos, o título nos dá mais condições de buscar recursos tanto do Governo Estadual quando do Governo Federal. A Prefeitura tem apoiado os grupos realizando bailes públicos de Fandango no Mercado do Café. O público tem comparecido e prestigiando cada vez mais”, disse.

De acordo com o prefeito, um centro de apresentações culturais, com o devido destaque para o Fandango, está incluso no projeto das obras de reestruturação do entorno do Aquário Marinho, na Praça 29 de Julho.

Segundo explica Américo Córdula, secretário de políticas públicas do Ministério da Cultura, na prática, o título de Patrimônio Imaterial Cultural do Brasil obriga o Estado brasileiro a manter programas específicos para manutenção do Fandango. “Vira política pública de Estado, independente da mudança de governos. Isso dá segurança aos grupos que trabalham com a dança, abre portas do ministério e facilita a obtenção de recursos”, explica.

O superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Paraná, José La Pastina Filho, é uma das personalidades públicas que sempre lutou pela manutenção do Fandango como expressão da cultura de raiz típica de Paranaguá e região. “Ficamos muito felizes de conceder o título, pois agora o Paraná tem uma manifestação cultural legítima e reconhecida pelo Ministério. É uma data muito importante para a cidade e seus habitantes”, disse.

Quatro grupos dedicam-se a manter viva a tradição do Fandango em Paranaguá: Grupo ‘Ilha dos Valadares’, do mestre Brasílio; grupo ‘Pés de Ouro’, do mestre Nemésio; grupo ‘Mandicuera’, de Aorélio Domingues e grupo ‘Mestre Romão”. Com exceção de Aorélio, todos os mestres são pessoas idosas, que lutam para atrair jovens e manter viva as batidas do Fandango.

“O título pode nos ajudar nisso, pois facilitará a obtenção de recursos junto ao Ministério. Com mais recursos, é possível levar o Fandango para mais espaços, valorizá-lo mais, levar até os nossos jovens”, saliente Aorélio.

Com 77 anos e fandangueiro desde os 8, mestre Brasílio estava emocionado após receber o título. “Agradeço ao Ministério, ao prefeito, a todos que participaram disso, principalmente o pessoal dos grupos aqui presentes”, disse.

A presidente da Fundação Municipal de Cultura (Fumcul), Maria Angélica Lobo Leomil, explica que, para tentar despertar o interesse dos jovens, está em negociação um projeto que vai levar a dança para as escolas do município. “Estamos acertando os detalhes disso com a Secretaria de Educação. Também ofertamos oficinas que ensinam a confecção da rabeca e de outros instrumentos do Fandango”, salientou.

Para o turismo, o Fandango como patrimônio imaterial traz novas perspectivas. “Nos dá uma identidade reconhecida nacionalmente. Já levávamos o Fandango para apresentações fora da cidade e éramos aplaudidos por todos. Continuaremos nesta tarefa e poderemos divulgar ainda mais essa dança como sendo genuinamente de Paranaguá”, disse o presidente da Fundação Municipal de Turismo (Fumtur), Rafael Guttierrez Júnior.

Festa do Fandango

A concessão do título abriu oficialmente a programação da 5ª Festa do Fandango, promovida pela Prefeitura de Paranaguá, por meio da Fundação Municipal de Cultura (Fumcul). A programação seguiu neste sábado com uma mesa redonda, conferência e grupos de trabalho sobre a dança. À noite, acontece o baile de Fandango no Mercado do Café.

No domingo (17), a partir das 15h, acontece café com banana e fandango, roda de viola com os mestres, causos com Rogério Soares e Pilda Costa e a Feira de Artesanato e Gastronomia caiçara no Mercado do Café.

História

O Fandango do litoral paranaense é uma das manifestações folclóricas mais antigas do Brasil. Tem sua origem na Espanha e chegou ao litoral com os primeiros casais de colonos açorianos por volta de 1750. Com muita influência espanhola, passou a ser batido principalmente durante o entrudo (antiga celebração do que hoje se conhece como Carnaval). Em quatro dias, a população não fazia outra coisa senão bater o fandango e comer barreado.

De origem espanhola (e também com influências portuguesas), o Fandango é uma dança trazida pelos imigrantes que no passado se espalharam pelo litoral. Para recordar a pátria distante e matar as saudades, eles dançavam em grandes mutirões festivos.

E assim, em uma fusão de cultura, surgiu o Fandango, que ganhou os compassos dos índios e dos caiçaras, fazendo nascer uma manifestação folclórica diferente incluindo ainda instrumentos como a rabeca, o adufo e a viola.

Três séculos se passaram e nesse correr dos anos, o fandango tornou-se uma dança típica com coreografia e música.

Nos anos 60, o fandango praticamente desapareceu em função de uma Nova fase cultural que predominou no mundo através da televisão e do radio que propagavam as novas tendências musicais. A falta de interesse dos jovens em aprender o fandango também contribuiu para que a dança entrasse na relação das manifestações folclóricas em extinção.

Assim, foi até a década seguinte. Nos anos 70, o fandangueiro Romão Costa passou a receber o incentivo do professor Inami Custódio Pinto, um dos maiores folcloristas, pesquisadores e compositores do Paraná. E desta forma o fandango ressuscitava timidamente. Da teoria para a prática foram mais 20 anos, ou seja, em 1993, a extinta Funcultur resolveu criar um grupo de fandango que representasse Paranaguá pelo Brasil afora.

Assim nasceu o Grupo Folclórico Mestre Romão, que realizou sua primeira apresentação no dia 11 de junho de 1994 no antigo Teatro da Ordem. O sonho do fandangueiro Romão Costa se tornava realidade.

O fandango foi resgatado e favoreceu o surgimento de outros grupos e mestres, que também estavam adormecidos. Todos foram contagiados pela efervescência cultural que está presente até os dias de hoje. Atualmente o fandango faz parte da realidade cultural de Paranaguá, seja através da Assossiação Mandicuera ou por intermédio espontâneo dos jovens que sentem vontade de dançar fandango, e bater o pé por esta ideia, mostrando que Paranaguá possui sua identidade cultural preservada, afinal o fandango é hoje um bem tombado e faz parte do patrimônio imaterial da cultura nacional.

Jornalista: Marcos Silva

Fotos: Marcio Tibilletti

Fonte: Prefeitura Municipal.

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